quarta-feira, 15 de julho de 2009

EM BUSCA DE MIM

Quando somos autênticos, algo acontece conosco e ao nosso redor. Geralmente as pessoas se assustam com a verdade e muito mais com quem mostra o que realmente sente e é. Somos criticados, deixados de lado e até banidos.

Existem vários grupos que se manifestam de maneira considerada rebelde, modista, estereotipada e por isso sofrem com o pré-conceito. É comum vermos um rapaz todo vestido de preto, com os cabelos todos arrepiados no alto da cabeça, e como um membro de uma tribo indígena americana, usa muitas correntes, pircings e até tatuagens. São olhados como aberrações da natureza. Mas será que quem o vê, pensa “quem é esta pessoa, como é seu caráter, quais são seus sonhos e planos”? A primeira vista não é normal, não é conforme seu grupo. Ele foge de seus valores de moda, usa um estilo de cabelo estranho ao que considera normal e por isso o despreza, repudia. Ele assusta, pois não é entendido. Nós nos assustamos como aquilo que desconhecemos ou não enxergamos.

Muitas pessoas têm medo de escuro, de andar por ruas de uma cidade desconhecida, medo da morte ou de alguém que está caracterizado diferente do que aprendeu como normal.

Então imagine saber que você não conhece a si mesmo nem a teus sentimentos, verdadeiramente! Isso pode vir a ser um absurdo para muitos e para uma grande maioria da humanidade, os quais se limitam em dizer que tipos de pessoas são.

Na adolescência, sentimo-nos donos do conhecimento. Caso algum adolescente leia esta afirmativa, certamente irá dizer que esta colocação está errada, como eu a achei um dia. Mas esta fase transitória e marcante da vida de todos, é uma incógnita. Sabemos das mudanças, das características básicas, mas não sabemos as consequências de emoções mal organizadas que assolam os jovens nessa fase. É normal vermos os jovens se distanciando dos pais em busca de novos grupos que não seja o familiar. A aventura de conhecer, relacionar-se, ser aceito como indivíduo, pode balançar com toda a estrutura familiar. De um lado os pais, que até aqui estavam confiantes nos princípios e bases passados ao filho. Do outro, o filho buscando se firmar num espaço diferente, de sua geração. Para isso deverá conhecer o jeito certo de se vestir, curtir as músicas do momento, saber se comunicar com sua tribo. Sabe-se lá o enorme conflito que leva dentro de si: a bagagem que traz de sua família entrando em contato com outras bagagens. Ele tem de fazer escolhas e estas devem ser equilibradas para continuar bem no seio familiar e ser incluído em seu grupo de preferência, superando preconceitos.

Muitos se deprimem, outros se revoltam e os mais fortes se estabilizam e vivem os momentos no intuito de adquirir mais experiência, sem prejudicar a convivência diária na escola, família e com amigos.

Nenhum pai ou mãe precisa ser psicólogo e nenhum filho precisa nascer com manual de instrução. Basta nos observarmos. Os pais, os quais possuem mais experiência, têm o dever de observar mais, não somente com os olhos de progenitores, mas com os olhos da alma (lembrar de sua fase) e com os olhos de um ser humano (mais friamente). Não são somente as características físicas que estarão mudando no seu filho, também as de caráter. É a família que irá ser o porto seguro constante na formação de princípios básicos desse jovem: honestidade, dinamismo, interesses, participação, responsabilidade, etc.

A maioria dos pais julga as atitudes erradas de seus filhos, como consequência das más companhias, dos amigos, da turma. Outros se perguntam “onde errei?” Qual deles está correto? Quando chega nesse ponto, devemos procurar ajuda. Porém, se os pais tiverem a responsabilidade de verificar, muito antes disso, saberão que o primeiro olhar deve ser dado para dentro de si mesmo.

Ter filhos faz parte da sequência natural da vida. A continuidade da espécie, do nome da família. Mas muitos estão despreparados para enfrentar essa responsabilidade: estabilidade financeira e emocional, saúde e estrutura familiar, enfim, vários fatores que devem ser observados, adquiridos e tidos, antes de gerar mais uma vida. O mínimo de preparo deve existir.

A separação dos pais, a ausência de um deles ou de ambos, a violência, a falta de compreensão e diálogo, o desconhecimento, a omissão, intolerância e muitos outros fatos, apóiam a hipótese de um jovem com sérios problemas emocionais e um futuro adulto com sequelas.

Buscar ajuda é uma forma de se preparar para o desconhecido. Um filho é um desconhecido. É um quarto escuro, é um lugar antes não visitado, mas que não venha a se tornar um adulto estranho. Admitir que tem medo é o primeiro passo, pois temos medo do desconhecido. Mas o passo seguinte deve ser o de constante busca em conhecê-lo e ter a certeza de que esse conhecimento jamais será por completo.

Filhos não podem ser vistos como consequência de um namoro, casamento ou descuido, mas muitos os são.

Das duas uma: ou criarás teus filhos como foste criado ou fará totalmente o inverso. O ideal seria unir todas as coisas positivas e sobrepô-las às negativas, mas isto é outra história. Há surpresas e desafios no cotidiano, por isso que muitos dizem que “a vida é um jogo”. Porém o nosso único desafiante ou o maior de todos, somos nós mesmos.

Ao nos depararmos com crianças de rua pedindo esmolas, usando drogas, cometendo pequenos delitos, podemos pensar como e porque eles estão ali. Que conceitos de vida possuem seus pais, se é que eles existem? Estas crianças são como barcos à deriva num mar em fúria. Uma longa história de miséria e acomodação, que talvez esteja se repetindo ou se intensificando a cada geração, onde não existem objetivos reais ou, se tiver, será o de apenas sobreviver e conviver como o que se tem. Seres humanos que desconhecem sua força, com valores morais distorcidos ou ausentes. A pesar de que a sociedade que os critica, comete delitos também e distorce valores morais com atitudes de hipocrisia. Para ambos, o ter poder tem o mesmo valor, mudando apenas as circunstâncias que os cercam. Os menores dominam grupos que os mantém vivos e no comando. Os maiores tentam enganar uma sociedade inteira para manterem-se no poder e no lucro.

Para um jovem, viver num mundo como esse implica em mais conflitos. Além dos que já o são comuns, vêem em exposição quadros da vida de uma sociedade que também o assustam. O suporte para suas decisões do caminho que irá seguir, está na família, então a família tem que ter voas bases para segurar as indecisões e dúvidas.

Não será dando respostas exatas que os pais ajudarão esse jovem. E sim, mostrando-lhe como buscar a resposta dentro de si, pois somente desta maneira o mesmo se descobrirá. Olhando para seu interior, buscará todas as informações adquiridas, analisando o que é certo e errado para si e para os demais, reconhecendo que o único desafiante é ele mesmo, superando seus medos, angústias, aflições, ansiedades, curiosidades. Vencer a si mesmo, em suas falhas humanas, as quais podem ser amenizadas e algumas totalmente superadas.

A infância e adolescência são as fases primeiras e um indivíduo pode passar por elas sem muitos conflitos, chegando à velhice com tranquilidade. Porém, existem aqueles que creem terem ultrapassado estas fases sem maiores problemas e chegando à vida adulta, diante de certos desafios, não encontram a resposta. Talvez a resposta esteja lá, bem no íntimo, mas ele não aprendeu a ver. Então, como um adolescente ingênuo, este adulto sofre emoções por vezes desastrosas. Conflitos gerados num momento que deveria estar dando suporte aos seus filhos. Nesse momento “a casa cai”, o “mundo desaba” e a frase mais ouvida é “não sei”.

A crença religiosa ajuda a muitos a superar estas fases difíceis. Outros procuram ajuda profissional de um terapeuta. Outros nada buscam nada tem, pois não possuem bagagens que o levem a sanar as dificuldades. Mas todos possuem o poder da mente, de querer e querer muito algo, visualizar e sentir em suas mãos a realização de qualquer coisa, mesmo aquelas consideradas impossíveis.

(Jaila Maria)

Nenhum comentário: